sexta-feira, 30 de setembro de 2011

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Seis anos de dor e descaso - Caso Mário Gabardo

Seis anos de dor e descaso

Por Sergio Gabardo, pai de Mário Gabardo

No dia 29 deste mês, estará completando seis anos desde a morte do meu filho Mário, um jovem de apenas 20 anos que teria, pelas suas características pessoais, um futuro maravilhoso. Um jovem com apurado senso de justiça. Muito humilde, buscava alcançar seus objetivos usando o seu esforço pessoal. Além disso, a flexibilidade e a sensibilidade estavam sempre presentes em suas ações o que o tornavam diferente dentre tantos outros jovens de mesma idade.

Mas sua trajetória foi interrompida na noite de 29 de setembro de 2005, quando se dirigia à casa de amigos para a tradicional confraternização das quintas-feiras. Um tiro certeiro tirou sua vida.

Descobri que nenhuma dor pode superar a dor da perda de um filho, especialmente se, como o Mário, encontrar-se em pleno vigor de sua juventude. Sinto-me "amputado" diante dessa perda. afinal, é alguém que coloquei no mundo e acompanhei para que se tornasse um homem de bem, um homem honrado. Mas no momento em que eu me preparava para desfrutar disso, inclusive vendo-o pronto para assumir os negócios da família, aparece alguém e lhe tira a vida. Tirou, na verdade, boa parte da minha própria vida. Sonhos foram desfeitos, planos ficaram inacabados, projetos de vida precisaram ser esquecidos.

Meu filho Mário, que cursava Direito na PUC-RS, foi assassinado a sangue frio, na frente da casa de um amigo quase irmão, em rua que costumava ir desde que era criança. em Canoas, RS. Os algozes, até hoje continuam livres, quem sabe fazendo novas vítimas. Passaram-se 72 meses. Os assassinos foram premiados pelo instituto da Impunidade, consagrado pelo descaso das autoridades responsáveis pela elucidação dos crimes contra a vida humana.

O assassinato do meu filho Mário foi tratado por essas autoridades simplesmente como mais um número na enorme estatística dos crimes insolúveis. Uma conduta irresponsável daqueles que tem o dever, a obrigação constitucional de dar o máximo de si em prol da sociedade, razão pela qual percebem seus salários.

Procurei, por dezenas de vezes, conversar com algumas dessas autoridades, mas me viraram as costas. Trataram-me com descaso, talvez por não ser detentor de um grande número de votos, ou porque sou um cidadão de bem, que paga regiamente os impostos, porque sou um Pai inconsolável, a julgar pela forma como transcorreram as investigações, cujo resultado foi desatroso. Ou seja, pouco foi feito para elucidar o caso e até hoje, decorridos 2.160 dias, não sei o que efetivamente ocorreu naquela noite trágica. O sentimento que fica é que essas autoridades tem coisas muito mais importantes a resolver do que buscar a identificação dos assassinos do Mário e levá-los a justiça.

Essas autoridades me devem explicações. Me devem esclarecimentos. Me devem respeito!

Nem preciso dizer que minha vida simplesmente se transformou num imenso abismo. O vazio se fez presente em minha vida. A dor revelou-se presença constante no meu dia a dia. É a dor da saudade! Saudades do Mário, do abraço dele, de ouvi-lo dizer "vamo lá, meu Pai". De receber um E-Mail no dia dos pais, endereçado a todos de sua lista de endereços, expressando seu orgulho por ser meu filho.

É a dor de quem consegue ter uma imagem de como seria a vida hoje com a presença do Mário, uma pessoa tão simples, que não tinha desafetos, que se preocupava com a nossa segurança sem imaginar que ele seria o atingido.Tinha somente amor no coração e suas ações eram marcadas pela humildade e pelo bem-servir.

Deus tem me dado forças para seguir em frente, especialmente porque existe um sem-número de pessoas que dependem do meu trabalho, da minha existência, da minha presença. Agradeço diariamente a Ele por ter-me concedido a bênção de conviver com o Mário os 20 anos, 2 meses e 20 dias em que só me trouxe orgulho.

Ao contrário do que muitos podem pensar, não desejo vingança. Mas é latente o meu sentimento de Justiça. Devo isso ao Mário. Não descansarei até que as autoridades competentes cumpram com suas obrigações legais e identifiquem os executores e/ou mandantes que assassinaram meu filho Mário, para que sejam encaminhados à Justiça dos homem e paguem pelo crime cometido.

É inadmissível e inaceitável que nos anos em que vivemos, com sofisticadas técnicas para se obter informações, que estão à disposição das autoridades constituídas, não seja possível identificar o autor de um assassinato. Isso só acontece quando há um odioso descaso, quem sabe até porque meu filho Mário não tinha familiares nos altos escalões do Governo. Caso contrário, certamente os criminosos ou mandantes já estariam nas mãos da Justiça. 

Estou aqui cumprindo o meu dever de Pai. Nada trará meu filho Mário de volta, Eu sei. Entretanto, afirmo a toda sociedade, ninguém irá calar minha voz, pois estarei cobrando dessas autoridades (em todos os níveis) o fim do descaso, e que cumpram com suas obrigações, identificando quem matou meu filho Mário.

Farei isso enquanto houver um sopro de vida em meu corpo. É pelo Mário e por outros tantos pais que continuam sem saber quem assassinou seus filhos, que estou decidido a seguir em frente, até que a Justiça seja feita.

Estou, reafirmo, exercendo o meu direito de Pai, esquecido por essas autoridades, que preferem os holofotes a trabalhar duro para desvendar um crime como este.

Incrivelmente doloroso e lamentável!

Sérgio, Pai do Mário.

"Quando morrem os pais, perde-se o passado, mas quando morre um filho perde-se o futuro....."


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