sábado, 24 de agosto de 2013

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Tenho 20 anos e quero viver


TENHO 20 ANOS...E QUERO VIVER...

Por Jorge Damus, pai do Rodrigo Damus

Tenho 20 anos...E quero viver...
No dia em que morri a noite estava linda, aberta para a alegria de viver que sempre tive. Lembro-me que sai da Faculdade e fui à casa de minha namorada, lá pelas 22:00 horas me despedi . Ela me perguntou. “Não vai avisar seu pai que esta aqui?” Respondi que não precisava, pois, eu estava dentro do meu horário normal e não tinha necessidade de avisar meu pai ou minha mãe. Queria voltar para casa e sai com todo o cuidado para a av. Giovani Gronch. Meu pai me avisou que esta região é muito perigosa, por causa dos assaltos e que já haviam ocorrido assassinatos nestes locais. E com toda a cautela segui em frente. Ao me deparar com um farol de transito fechado na altura do no. 5500 parei. Não vi na esquina escondidos na vegetação 04 indivíduos, dois pularam na frente do meu carro e dois ficaram ao lado. Puxei o freio de mão e coloquei o carro em ponto morto. Ouvi um tiro e os 04 indivíduos fugindo. Meu corpo sentiu um calafrio muito forte e um grande susto, depois tudo sumiu numa escuridão. Acordei, ao meu lado pessoas e policiais apressados me levaram para o pronto socorro do Campo Limpo. Meu corpo estava perfurado por uma bala, disparada por aquele cara que eu não conhecia, que não fiz nada, que nunca vi antes, e não entendi porque fez isso comigo. Todos estavam apressados em me socorrer. Curioso, eu não sentia dor, não sentia nada. Ao chegar no pronto socorro os médicos me examinaram e cobriram-me com um lençol. Hei tirem isso de cima de mim, tirem-me desse mármore frio! Não consegui erguer-me, não consegui mover um dedo sequer.

Eu não posso estar morto, tenho apenas 20 anos. Meu pai, minha mãe, minha irmã e nossa cachorrinha me esperam. Quero viver, tirem esse lençol que me incomoda, deixe-me sair daqui. Ninguém me ouvia, não sei porque. Levaram-me para outro prédio, outro lugar e localizaram o projétil por uma chapa de raios-X, meu Tio Eduardo estava comigo e também não me ouvia. Arrumaram-me o melhor possível e fomos para outro lugar muito cheio de gente. Meu pai com o rosto lavado em lagrimas e muito abatido. Minha mãe, minha irmã e minha avó, soluçavam de desespero sobre o meu rosto e meu peito. Amigos e parentes passavam por mim, fitavam-me com tristeza, minhas amigas e minha namorada acariciavam minhas mãos, rosto e cabelos. O Silvio pediu minha ajuda para encontrar os seres que me assassinaram, não entendi muito bem. 

Por favor eu preciso acordar. Ajudem-me, tirem-me deste caixão e deixe-me sair. Tenho apenas 20 anos, quero viver, tenho uma vida inteira pela frente. Quero namorar, passear, estudar, ser jornalista, quero o amor de meus pais, de minha irmã, de minha avó, de meus parentes e amigos.Quero jogar bola, gosto disso, quero ver meu time do coração campeão. Meu Deus, dê-me mais uma chance. Tudo o que quero é VIVER esta linda vida que eu vivia. Já falei, tenho 20 anos e quero viver!

Rodrigo Balsalobre Damus - Jovem, trabalhador, estudante do 2o. ano de jornalismo, assassinado na av. Giovani Gronch, alt. no. 5500, em 27/09/1999, por um menor de idade e mais três co-autores maiores de 18 anos, tinha apenas 20 anos e queria viver.

Rodrigo Damus e muitas outras vítimas viram apenas um número nas estatísticas. Será que é isso que queremos para nossos filhos? Nós cidadãos ordeiros, até quando seremos assaltados em nossos direitos e na rua pelos acima da lei? Até quando continuaremos impassíveis, medrosos, dentro da lei ? Acorda Brasil! Reação já! Até quando a população suportará crimes como esse sem reagir? Parece que estão todos anestesiados! Será que cada família brasileira terá que perder um filho ou filha para agir? Espero que não!

Não se mata somente com armas brancas ou de fogo.
Mata-se com gestos, palavras e omissões.
Mataram o sonho, mataram a esperança. E o Estado prevaricando de suas atribuições vira co-autor dos crimes e da impunidade que impera.
Mataram portanto, as chances de que justiça seja feita.
Crime para o qual o castigo é inverso.
Pune-se a vitima. A ela é decretada - A Solidão, a cova fria de um cemitério e a saudade de seus familiares.

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