quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

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Participação de Sandra Domingues no Especial Invisíveis, do Portal R7


“As pessoas só saem para pedir Justiça quando a tragédia lhes bate à porta”, diz fundadora de ONG


Apesar de nunca ter sentido na própria pele a dor trazida pela violência, Sandra Domingues tomou para si o sofrimento de outras pessoas e decidiu fundar a ONG Justiça É O Que Se Busca. O grupo acompanha atualmente cerca de 400 casos no País, que incluem vítimas de crimes, acidentes de trânsito, erro médico ou de desaparecimento.

A atuação da ONG se dá nas redes sociais, nas ruas ou até mesmo dentro de salas de júri, no sentido de evitar que os culpados passem impunes por seus erros.

Em entrevista concedida à equipe do especial Invisíveis, Sandra comenta os aspectos em torno dessa jornada: investigação, impunidade e Justiça.

R7: O que é Justiça para você?

Sandra Domingues: Que o algoz pague pelo crime cometido. Não se trata de vingança, como muitos dizem ser, principalmente o pessoal dos Direitos Humanos. Justiça seria o assassino cumprir o tempo integral da pena, sem atenuantes, visto que a pena máxima permitida no Brasil é somente de 30 anos. Então o justo seria que o condenado cumprisse a sentença em sua totalidade e não como é hoje. 

R7: O que é o grupo Justiça é o que se busca? O que motivou a criação?

Sandra: Um grupo formado por familiares de vítimas da violência e ativistas que lutam por justiça. A minha motivação para a criação do grupo se deu a partir de 2008, quando conheci o caso da menina Madeleine Beth MacCann, que desapareceu em Portugal em 2007. Logo depois aconteceu o assassinato brutal da Isabella Nardoni. Passei a acompanhar o caso, organizar e participar de manifestações para que a justiça fosse feita. Hoje, o grupo acompanha cerca de 400 casos de vítimas, sejam elas de violência, trânsito, erros médicos ou desaparecidas.

R7: Quais conquistas você destacaria desde a criação do grupo? 

Sandra: Nesses seis anos de luta, conseguimos graças à pressão com manifestações, reverter vários casos. Um deles estava impune há 25 anos, como foi o caso Anastácio Cassaro, do Espírito Santo. O caso do pequeno Pedrinho que havia sido julgado como maus tratos e os algozes condenados a sete anos em regime semiaberto. Depois de cinco anos de luta, apesar dos algozes [mãe e padrasto] ainda estarem recorrendo e não terem sido presos, foram julgados por tortura e condenados a dez anos em regime fechado. Entre tantos outros.

R7: Muitas famílias assumem um papel que deveria ser da polícia e vão ao local investigar por conta própria os fatos.  O que você pensa sobre essa realidade?

Sandra: Penso que isso aconteça pelo fato de a impunidade não ser um assunto que preocupa a sociedade. Infelizmente, as pessoas pensam que a dor só bate na porta do vizinho e somente quando a tragédia lhes bate à porta é que saem para pedir justiça, cobram da polícia um trabalho eficaz e lutam por mudanças no Código Penal, por leis mais severas.

R7: Qual a sua opinião sobre a investigação policial?

Sandra: A Polícia, assim como a Justiça, só fica em cima dos casos que são de repercussão, enquanto o sangue ainda está quente no chão e é notícia. Se a família e a sociedade não cobrarem, viram apenas mais um na estatística da violência.

R7: Você concorda com a maneira de se fazer júri no Brasil? 

Sandra: Não tenho nada contra o Tribunal do Júri, já assistimos vários julgamentos e acredito na instituição. É uma oportunidade de se provar a inocência, caso de fato a pessoa seja inocente. O que não concordo é com a dosimetria da pena, pois os jurados, diante das provas e convencidos da culpa do réu, condenam, mas cabe ao juiz calcular a pena e essa nem sempre vem ao encontro daquilo que a família e a sociedade esperavam. 

R7: O que ainda precisa ser feito para criar a sensação de justiça no Brasil?

Sandra: Nem tudo que é legal é moral. Portanto, ainda que sejam direitos dos criminosos os diversos benefícios que lhes são concedidos, os atenuantes, as brechas da lei, que acabam sempre diminuindo o tempo de pena, eles causam na família da vítima e na sociedade a sensação de injustiça, pois tanto a vitima como a família da vítima não tiveram uma segunda chance. Nosso Código Penal parece que é feito somente para beneficiar quem comete o crime, a impunidade é gritante e um estímulo à criminalidade.

Foto: Daia Oliver/R7

Fonte: Invisíveis - Portal R7



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